Virada no San Siro, pressão no fim e um recado claro
O San Siro silenciou no fim: a Udinese venceu a Inter de Milão por 2 a 1, de virada, e levou três pontos de um dos palcos mais duros da Itália. Foi pela 2ª rodada da Serie A, em 31 de agosto de 2025, e com roteiro cheio de tensão. A Inter saiu na frente cedo, parecia no controle, mas perdeu o fio do jogo. A equipe friulana mostrou pulso, virou ainda no primeiro tempo e segurou a avalanche final com um goleiro em noite inspirada.
Denzel Dumfries abriu o placar aos 17 minutos, concluindo jogada iniciada por Marcus Thuram pela direita. Era o cenário ideal para os donos da casa: vantagem, torcida junto e a sensação de que o 2 a 0 viria rápido. Só que o ritmo caiu. A Udinese adiantou o bloco, forçou erros na saída nerazzurra e mudou a temperatura da partida.
O lance-chave apareceu aos 29. Depois de revisão no VAR, pênalti para os visitantes. Keinan Davis assumiu a cobrança e bateu com segurança, 1 a 1. A partir daí, a Inter ficou entre acelerar e se resguardar, e acabou presa no meio do caminho. A Udinese sentiu o momento e foi cirúrgica.
O castigo veio aos 40, com Arthur Atta virando o jogo em conclusão precisa dentro da área. Não foi por acaso: nas primeiras rodadas, ele já vinha liderando o time em chutes certos no alvo. A jogada expôs um problema recorrente da Inter pós-gol inicial: buracos entre meio e defesa e muita distância entre os setores, algo que dá campo para quem acelera por dentro.
O intervalo trouxe mudança de postura. A Inter voltou com mais volume, cruzou, finalizou e chegou a empatar com Federico Dimarco, mas o gol foi anulado por impedimento. O estádio reagiu, o time tentou pelo alto e por baixo, e trombou com Razvan Sava em versão mural. O goleiro fez uma defesa dupla espetacular numa sequência dentro da pequena área e ainda cortou bolas aéreas que costumam castigar defesas visitantes.
Mesmo sob pressão, a Udinese não se desorganizou. Linha compacta, coberturas rápidas e faltas táticas no meio para quebrar o ritmo. Não foi só sofrimento, houve saída consciente quando dava para respirar. E quando não dava, a equipe escolheu os duelos certos, empurrou o jogo para os lados e matou o tempo com inteligência.
- 17' — Dumfries faz 1 a 0 após assistência de Thuram.
- 29' — Pênalti marcado após VAR; Keinan Davis converte e empata.
- 40' — Arthur Atta vira o placar: 2 a 1 Udinese.
- 2º tempo — Gol de Dimarco anulado por impedimento e defesa dupla de Sava mantém a vantagem visitante.

O que o jogo escancara: identidade, execução e confiança
A derrota derruba uma sequência incômoda para a Udinese: a Inter não perdia esse confronto havia seis partidas. Também alimenta um debate que já vinha crescendo em Milão. Cristian Chivu, há três meses no comando, admitiu que o time ainda é um “trabalho em andamento”. A leitura é honesta, mas a paciência costuma ser curta quando o elenco foi reforçado e os objetivos são altos. As dúvidas batem na mesma tecla: qual é o onze-base e quais são as regras claras de jogo para cada fase da partida?
Contra a Udinese, a Inter foi intensa por 15 minutos e depois oscilou. Quando a pressão alta não encaixou, faltou alternativa. A construção ficou previsível, com muitos cruzamentos e pouca infiltração entre linhas. O corredor direito funcionou no começo, mas perdeu profundidade. No meio, faltou alguém para atrair marcação e liberar o passe vertical. É execução? É peça? É ajuste de posicionamento? Provavelmente um pouco de tudo.
Do outro lado, a Udinese apresentou plano simples e bem trabalhado: linhas próximas, gatilhos claros para pressionar a saída e transição direta quando recuperava a bola. Davis foi ponto de apoio constante, segurando zagueiros e abrindo espaço para quem vinha de trás. Atta atacou os meios-espaços com agressividade. Não é um time de posse longa, mas sabe exatamente o que quer fazer com e sem a bola. Quando isso acontece, o jogo fica menos pesado.
Razvan Sava merece um parágrafo à parte. Além das defesas decisivas, transmitiu segurança nas bolas alçadas e organizou a área em momentos de sufoco. Em jogo grande fora de casa, o goleiro não pode errar — e ele não errou. Keinan Davis levou o prêmio de melhor em campo pelo peso do gol e pelo trabalho sem bola. A dobradinha dos dois explica metade do resultado.
Na tabela, o impacto é direto. Com a vitória, a Udinese soma 4 pontos nas duas primeiras rodadas (uma vitória, um empate) e carimba uma sequência de cinco jogos sem perder na temporada, considerando todas as competições. Para quem mira estabilidade cedo, é munição de confiança. Para a Inter, com 3 pontos (uma vitória, uma derrota), fica o alerta de que o início de campeonato cobra identidade, não só nomes.
No curto prazo, Chivu terá de mexer menos na estrutura e mais nos comportamentos. Reduzir a distância entre linhas, dar rota clara de passe quando a pressão adversária sobe e estabelecer quem dita o ritmo no meio. Com a janela de verão encerrada, a conversa agora é de treino, repetição e funções bem definidas. O elenco é bom, mas precisa de automatismos — especialmente quando o gol cedo não define a partida.
Para a Udinese, a mensagem é cristalina: dá para competir com os grandes se o plano for executado com disciplina. Ganhar no San Siro não é detalhe — é cartão de visita. Sustentar isso nas próximas rodadas significa repetir a solidez defensiva, manter a agressividade nos primeiros passes após a recuperação e escolher bem quando acelerar. Com Davis e Atta em alto nível e Sava em forma, há base para mais do que uma noite memorável.
A torcida da Inter saiu frustrada com as chances perdidas e com a sensação de que o time tirou o pé cedo demais. A da Udinese, orgulhosa da postura e da frieza quando o ambiente ficou hostil. Se o começo de temporada serve para ajustar rumo, o jogo entregou um mapa: para a Inter, urgência por clareza; para a Udinese, confiança para manter o trilho.