O Ministério de Minas e Energia do Brasil acendeu um sinal verde para investidores internacionais em projetos de terras raras com um ofício enviado ao Congresso Nacional em novembro de 2025. Não foi apenas um documento burocrático — foi um sinal de que o Brasil quer deixar de ser apenas fornecedor de matéria-prima e se tornar peça central na nova geoeconomia dos metais críticos. O plano, detalhado no site Ofator.com.br em 25 de novembro, prevê investimentos anuais de R$ 5,2 bilhões: R$ 3,7 bilhões para transformação mineral e R$ 1,5 bilhão para lavra e beneficiamento. A mensagem é clara: o país está disposto a receber capital estrangeiro, mas não aceitará ser um simples depósito de minérios.
Um país que não quer ser apenas exportador
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi categórico: "Brasil não será apenas exportador de minerais críticos". Essa frase, repetida em discursos e entrevistas desde o início de 2025, não é retórica. É política de Estado. Enquanto a China controla cerca de 70% da produção mundial de terras raras e mais de 90% da refinagem — segundo dados citados por La Jornada —, Lula insiste que cada projeto de mineração no Brasil deve vir acompanhado de fábricas locais, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Isso não é protecionismo. É soberania. E é o que atrai olhares do Ocidente.Os Estados Unidos e a União Europeia estão em pânico estratégico. O Banco Central Europeu revelou em 21 de novembro de 2025 que mais de 80% das grandes empresas da zona do euro estão a apenas três intermediários de um fornecedor chinês de terras raras. Imagine um sistema nervoso global que, se cortado na China, desliga tudo: carros elétricos, turbinas eólicas, mísseis, telas de smartphones. Não é exagero. É realidade.
O Pentágono e a MP Materials: uma aliança de segurança nacional
Em julho de 2025, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos fez algo inédito: comprou 15% das ações da MP Materials, mineradora sediada em Las Vegas, por US$ 400 milhões. Não foi um investimento financeiro. Foi um ato de guerra econômica. O Pentágono quer garantir que os EUA não dependam da China para ímãs de terras raras — componentes essenciais em sistemas de defesa, como radares e mísseis guiados. O resultado? As ações da MP Materials subiram 50% após o anúncio e acumularam valorização de 170% em 2025 até julho.Agora, a MP Materials está construindo uma nova fábrica nos EUA com capacidade para produzir 10.000 toneladas anuais de ímãs — o suficiente para abastecer a indústria militar e comercial americana. E não para por aí. Em um movimento estratégico de alto risco, a empresa firmou uma joint venture com o Departamento de Guerra dos Estados Unidos e a Empresa Minera de Arabia Saudí (Maaden) para construir uma refinaria na Arábia Saudita. É um jogo de xadrez global: EUA e Arábia Saudita unindo forças para desmontar a monopólio chinês.
Minas Gerais no centro da tempestade
Enquanto isso, em Minas Gerais, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais debate uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que poderia permitir a concessão de terras públicas a empresas de controle internacional para explorar minérios estratégicos. O texto ainda está em fase de discussão, mas já gerou polêmica. De um lado, empresários e analistas econômicos veem na medida uma forma de acelerar investimentos. Do outro, ambientalistas e movimentos sociais temem a repetição de modelos extrativistas que já destruíram regiões inteiras.Os dados são preocupantes: 15 países controlam 90% dos 21 metais críticos necessários para a transição energética. A China, desde que Deng Xiaoping declarou em 1972 que "Oriente Médio tem o petróleo, China tem as terras raras", construiu um império silencioso. Hoje, ela não apenas produz — ela decide quem pode comprar, a que preço e com que tecnologia.
Por que isso importa para o brasileiro comum
Você não é minerador. Não trabalha com ímãs. Mas sua vida já é afetada por isso. Se a China decidir cortar as exportações de terras raras, os preços dos carros elétricos sobem. As turbinas eólicas ficam mais caras. Os aparelhos eletrônicos envelhecem mais rápido. E o Brasil, com suas reservas ainda pouco exploradas — principalmente no Norte e Centro-Oeste —, pode se tornar o novo "petróleo do século XXI". Mas só se souber jogar bem as cartas.As instituições financeiras já estão apostando. O Goldman Sachs deu classificação de "Compra" à MP Materials em 19 de novembro de 2025. O BMO Capital elevou sua avaliação por causa da "vulnerabilidade evidentemente clara" dos EUA. Isso não é especulação. É geopolítica em ação.
O que vem a seguir
O processo legislativo na ALMG deve ser concluído antes do fim de 2025. Enquanto isso, o MME já começou a negociar acordos bilaterais com países da União Europeia e com o Japão — que também busca diversificar suas fontes. O Brasil pode se tornar o ponto de equilíbrio entre a China e o Ocidente. Mas isso exige um novo modelo: não mais concessões sem contrapartidas, mas parcerias com cláusulas de transferência tecnológica, geração de empregos qualificados e proteção ambiental.Se o país acertar, terá não só um novo setor econômico — terá uma nova identidade global. Se errar, será mais um país rico em recursos, pobre em futuro.
Frequently Asked Questions
Como o Brasil pode competir com a China nas terras raras?
O Brasil não precisa superar a China em volume, mas em diversificação e integração. Enquanto a China domina a refinagem, o Brasil tem reservas significativas e pode se tornar um fornecedor confiável e transparente. A chave está em vincular a extração à produção local de componentes — como ímãs e baterias —, algo que a China não oferece aos parceiros. O investimento em tecnologia e logística é o diferencial.
Quais são os riscos de abrir o setor para capital estrangeiro?
O maior risco é a repetição do modelo extrativista: exploração sem valor agregado, sem transferência de tecnologia e com danos ambientais. A PEC em tramitação em Minas Gerais pode abrir espaço para empresas que só querem extrair e exportar. A resposta é regulamentação rígida: exigir fábricas, empregos locais e compensações ambientais como condição para concessão de terras públicas.
Por que o Pentágono investiu na MP Materials?
Porque os EUA não conseguem produzir ímãs de terras raras em escala suficiente para suas forças armadas. A China controla 90% da refinagem, e qualquer interrupção nas exportações afetaria sistemas de defesa críticos. O investimento de US$ 400 milhões garante acesso garantido a suprimentos e fixa preços mínimos, protegendo o Pentágono de pressões geopolíticas.
Quais regiões do Brasil têm maior potencial para terras raras?
As maiores reservas conhecidas estão no Norte (Pará e Amapá), no Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso) e em Minas Gerais. O projeto de Catalão, em Goiás, já é um dos mais avançados. Mas o potencial ainda não foi totalmente mapeado. Estudos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apontam que o país pode abrigar até 10% das reservas mundiais — o que o colocaria entre os cinco maiores detentores.
Como isso afeta a transição energética no Brasil?
As terras raras são essenciais para turbinas eólicas, motores de carros elétricos e sistemas de armazenamento de energia. Se o Brasil não desenvolver sua própria cadeia produtiva, continuará importando componentes caros. Mas se investir em fábricas locais, pode se tornar um hub de tecnologia limpa para a América Latina — criando empregos, reduzindo custos e fortalecendo a soberania energética.
O que os países europeus estão fazendo para se livrar da dependência da China?
A União Europeia está acelerando acordos com o Canadá, Austrália e Brasil. O BCE já pressiona empresas a mapear suas cadeias de suprimento até o fornecedor direto. Além disso, a UE aprovou o Regulamento de Matérias-Primas Críticas, que inclui incentivos fiscais para reciclagem e novas minas fora da China. O Brasil, com sua estabilidade política e riqueza mineral, é um dos poucos países com capacidade real de substituir o domínio chinês.